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Este post é um exercício da obra "Escrita em Dia" de Margarida Fonseca Santos. Para mais informações, clique aqui.

 

  "E se não tivesse sido assim?" Essa pergunta assombra-me sem descanso. Desde sempre, a escuridão fora a minha zona de conforto. No vazio da noite conseguia pensar melhor, preenchendo o silêncio com os meus pensamentos, preenchendo o negro com a minha imaginação. Não é por acaso que me chamam a Escritora da Noite; todos os meus romances foram pensados e escritos ao luar.

  Mas agora não. 

  "E se não tivesse sido assim?", a pergunta que dá começo a um rio de pensamentos perturbadores e que parecem não ter fim. Já sou conhecida como assassina, é verdade. Mas isso por por fim à vida de muitos dos meus personagens. Por tua culpa vou ser a assassina fora do papel. A esquisita que escreve sobre amor e que acaba por matar a pessoa que mais ama! Queria dizer-te que não te amo como se te cuspisse as palavras à cara. Mas não posso, estás morto. E fui eu quem te matou. Se te deixar mais feliz, a minha consciência corrói-me todos os minutos de cada dia. Onde antes estava a criatividade está agora a culpa.

  Mas ninguém o sabe.

  Ninguém.

  "Assassino desconhecido" disseram nas notícias sobre a tua morte. (Sempre quiseste aparecer na televisão, ora aí tens.) E agora eu tenho três romances em atraso e a minha editora, tu bem a conheces, não me larga a perna. Mas deixa, ela pensa que é do luto. Até me ria, se a minha conta bancária não estivesse metida ao barulho.

  Odeio-te! Envenenei-te com a maior das facilidades. Mas, e se não tivesse sido assim? E se eu tivesse trocado os copos à ultima da hora e bebesse o veneno no teu lugar? Seria a escritora que morreu sem dar um fim às suas colecções. Já tu, és o jovem com uma morte suspeita cujo autor é desconhecido.

  Ás vezes arrependo-me. Ás vezes sinto a tua falta, é normal, sou humana. Ás vezes gostava que aqui estivesses... Tenho saudades do chá às três da manhã que me fazias enquanto bisbilhotavas o que escrevia... (Nunca te saiu da ideia que escrevia sobre ti...).

  Se, eventualmente, o que fiz for descoberto, vou dizer que tu sabias o que acontecia nos meus livros não-publicados. E ainda hei-de acrescentar na minha voz misteriosa - que tu tanto adoras - que "dois podem manter um segredo se um deles estiver morto."

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1 comentário

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Oh, Pedro, e não me dizias nada?! Gostei tanto de ler o texto, obrigada por estares a fazer os exercícios, espero que te estejas a divertir! Um grande beijinho para ti

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